Quem nunca passou um tempo “viajando” na mente? Você está em casa, ouvindo uma música e, de repente, começa a ser transportado para outros cenários. Ou então você começa a “viajar” antes de dormir e, nessas histórias, tanto pode ser o personagem, como pode criar, inclusive, personagens, falas e os mais diversos cenários.
Na infância, as fantasias fazem parte do desenvolvimento saudável. Quem se lembra do personagem Bob, do desenho O Fantástico Mundo de Bob, que fantasiava sobre qualquer situação e sobre todas as pessoas, rendendo muitas risadas? É perfeitamente normal que as crianças se utilizem do recurso da fantasia para a interpretação do mundo que estão conhecendo.
Fantasias em excesso fazem parte do período da puberdade, em que na adolescência, começa a se imaginar uma série de experiências que ainda irão ocorrer, como ter um relacionamento amoroso, como será a primeira relação sexual, etc.
O problema são as fantasias em excesso, decorrente de quando a pessoa se utiliza desse recurso como mecanismo de defesa para obter satisfação ilusória.
Resumindo, o universo paralelo parece muito mais atrativo do que a realidade e, ficar nele, pelo maior tempo possível, pode se tornar um problema.
O portal Mulher Quebrada esclarece sobre o que está por trás das fantasias em excesso e como o ato de fantasiar pode prejudicar o bem-estar da pessoa.
QUANDO FANTASIAR PODE SE TORNAR UM PROBLEMA
Algumas pessoas tendem a levar as fantasias tão a sério que além de as alimentarem, se fecham para a realidade, porque, como já foi dito, o mundo da fantasia parece mais atraente e “anestésico” diante de uma realidade desagradável.
Fantasias em excesso podem ser consideradas um problema quando a vida no mundo objetivo e real é completamente substituída pela vida na fantasia.
Para Sigmund Freud, é impossível viver sem ilusões, aliás, o universo imaginário é primordial para o desenvolvimento humano.
A professora e psicanalista Cássia Chaffin, explica que pessoas que se restringem quanto ao ato de sonhar e vivem mais “presas à realidade”, tendem a se tornar mecânicas e não conseguem criar fantasias, o que as impede em suas vidas também de criar soluções criativas.
Já os distúrbios neuróticos têm principal característica o exagero de sensações psíquicas normais para qualquer ser humano.
A angústia, ansiedade, medo, dramatização, obsessão e sentimentos depressivos são algumas ocorrências exageradas pelo neurótico, que levam ao sofrimento e à tentativa de “negociar” a realidade.
Um dos transtornos neuróticos relacionados ao ato de mascarar a realidade é a mitomania, que leva a pessoa a contar mentiras compulsivamente. A pessoa tem a mania de mentir para se sentir mais confortável a fim de evitar a rejeição de pessoas e punição por erros. O caso mais grave do problema leva o indivíduo a ter dificuldades em distinguir o que é verdade do que é invenção.
As fantasias em excesso podem ser categorizadas como transtorno de devaneio excessivo.
Em 2002, o psiquiatra Eliezer Somer, da Universidade de Haifa, em Israel, falou pela primeira vez do problema, descrevendo os principais sintomas:
A pessoa é uma sonhadora, capaz de criar os seus próprios personagens para mergulhar em histórias complexas, repletas de detalhes e muito “reais” para ela;
Essas fantasias interferem em sua vida real e qualquer estímulo pode servir como gatilho para que se crie uma nova história, que levará a um mergulho ainda mais profundo no universo das fantasias;
Quem sofre com o transtorno do devaneio excessivo também pode vir a negligenciar responsabilidades, o que inclui alimentação e higiene;
O problema pode levar a dificuldades para dormir;
Quando sonham acordadas, as pessoas costumam realizar movimentos repetitivos ou estereotipados, o que inclui expressões faciais;
Muitas vezes, ao fantasiar, a pessoa pode murmurar em voz baixa, encenando o próprio devaneio;
As fantasias podem durar horas, e ao ter de cessá-las, a pessoa pode se sentir extremamente ansiosa, como se a fantasia representasse um vício.
O problema das fantasias em excesso também costuma incidir sobre os relacionamentos amorosos, quando literalmente aquele que devaneia, está se relacionando com alguém que criou em sua fantasia e não com a pessoa de fato, e quando de alguma maneira essa fantasia parece não ter tanta força diante da realidade. Parece inaceitável a outra pessoa tal como é, sem a vestimenta de personagem criada. Uma ou ambas as pessoas no relacionamento podem na verdade estar se relacionando com a fantasia criada e não com a pessoa de fato.
Mesmo tendo se tornado tão comum os relacionamentos virtuais, muitos especialistas alertam que não é possível “amar virtualmente” alguém, porque amar se relaciona a conhecer o outro, com todas as qualidades e defeitos e, pela internet, o máximo que alguém consegue é se apaixonar pela fantasia nesse tipo de interação.
A fantasia, imaginação, o “sonhar acordado” também é importante e, em muitos momentos, ajudam no processo criativo seja na vida pessoal ou profissional, mas essa fantasia precisa em algum momento se conectar à realidade e provocar alguma transformação também real.
A TCC (terapia cognitivo-comportamental) pode auxiliar a pessoa a se conectar com a sua realidade e a viver melhor, no caso em que sinta que essas fantasias em excesso estejam atrapalhando demais a sua vida.
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