Dizem que finjo ou minto tudo que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto com a imaginação. Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo, o que me falha ou finda, é como que um terraço sobre outra coisa ainda. Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio do que não está ao pé, livre do meu enleio, sério do que não é. Sentir, sinta quem lê! [Fernando Pessoa, in "Cancioneiro]

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domingo, 6 de junho de 2021

Cuidados com a superexposição: O que postar da vida a dois nas mídias?

 


Dedos entrelaçados sobre a mesa de um restaurante chique, beijos rápidos o suficiente para encaixar no tempo de um boomerang, declarações em textos compridos e repletos de emojis, memórias de viagens acompanhadas de hashtags, selfies com tarjas de corações sobre os olhos, buquês de flores republicados com gifs que expressam surpresa e gratidão. Muitas são as formas que os casais encontram de expor felicidade na internet. 

 Contudo, embora cada relacionamento tenha necessidades próprias dentro e fora do ambiente virtual, a superexposição tende a prejudicar mais do que contribuir para o bem-estar do casal. E não só. Segundo Caroline Vieira, psicóloga especialista em relacionamentos afetivos, a prática também afeta outras pessoas quando intenta transmitir uma fantasia de perfeição. "É muito mais valorizado ser um casal de conto de fadas do que ser real", observa a especialista. Também psicóloga, Priscilla Costa defende que o compartilhamento de bons momentos é saudável quando feito somente para esse fim e não para, de alguma forma, "provar" para alguém que o relacionamento é "blindado" ou perfeito. "Pelo que vejo frequentemente, quando uma das partes gosta de se expor e a outra não, gera desgaste", constata a profissional.

Diego Câmara, 27, diz que ele e sua noiva Cecília Campos, 30, são equilibrados no que se refere à exposição do relacionamento. O casal tem um filho de pouco mais de um ano de idade e costuma publicar, praticamente, apenas momentos em família no Instagram. "Quando se tem um filho, se registra muitos momentos: almoços, passeios, viagens", relata o servidor municipal. Ele acredita que a felicidade do casal "não precisa ser propagada todo dia" e deve acontecer de maneira natural, para "que não seja uma felicidade forçada". Caroline lembra ainda que, numa relação afetiva, tanto o "nós" como o "eu" e o "tu" merecem atenção. "É saber estar bem, separado, também. E respeitar que o outro precisa da individualidade dele."

Dessa forma, devem ter cautela, por exemplo, casais que compartilham senhas das redes sociais como "prova de confiança" e que têm perfis compartilhados. "Ter acesso irrestrito à conta do outro considero um pouco invasivo", alerta Priscilla. Segundo ela, que entende o diálogo como base para o relacionamento dentro e fora do ambiente virtual, o comportamento de vigilância é terreno fértil para o ciúme. Namorando há seis meses, os universitários Letícia Mendonça, 23, e Jabz Castro, 24, já tiveram o relacionamento estremecido pelo comportamento nas redes sociais. "Antes, quando ele ficava no celular, virava pra eu não ver as coisas e isso me chateava", lembra Letícia. Hoje, o jovem casal resolve os problemas "na base da conversa" e mantém frequência de postagens apenas para atualizar amigos e familiares sobre a rotina dos dois. Letícia compartilha: "Os comentários são de pessoas do nosso convívio. Você se sente lisonjeado em saber que as pessoas próximas torcem pelo seu relacionamento. É saudável. Eu acho". 

 A descoberta do equilíbrio. 

Postar fotos e fazer declarações nas redes sociais foi uma questão no início do meu relacionamento. Esses dias, encontrei um e-mail do começo do namoro em que eu cobrava: "Dessa forma (você sem postar), parece que eu gosto sozinha". É que eu ansiava as datas e marcos da relação para me derreter em palavras no Instagram. O meu namorado, ao contrário, se dedicava em demonstrações offline. O tempo e algumas conversas foram trazendo o equilíbrio necessário: para ambos. Ele entende a importância de, às vezes, celebrar online alguns marcos ou mesmo a vida comum; eu passei a reparar com olhos mais atentos os pequenos gestos, os afetos do dia a dia que acontecem sem que o mundo dê conta. 

Como manter uma rotina saudável nas redes sociais? 

Prezar pelas individualidades. Não querer ou exigir senhas para monitorar a conta do outro. Não compartilhar conteúdo pela simples necessidade de provar para alguém que seu relacionamento é "blindado" ou "perfeito". Dialogar sempre para alinhar as necessidades do casal. Preferir ocupar o tempo curtindo a presença do outro. Às vezes, quando o foco é exclusivamente a exposição do relacionamento nas redes, se perdem momentos preciosos.


https://www.opovo.com.br/jornal/etc/2019/06/07/cuidados-com-a-superexposicao.html

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