Dizem que finjo ou minto tudo que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto com a imaginação. Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo, o que me falha ou finda, é como que um terraço sobre outra coisa ainda. Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio do que não está ao pé, livre do meu enleio, sério do que não é. Sentir, sinta quem lê! [Fernando Pessoa, in "Cancioneiro]

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segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Leia Mário Quintana - Eu recomendo!!!




Quando penso numa boa leitura, logo penso em Mário Quintana. Com sua obra fecunda, vale ressaltar algumas, entre tantas...
O livro A Rua dos Cataventos (1940) que foi a sua estreia na poesia, é com um livro de sonetos. Enfatiza as coisas simples da vida com um lirismo ímpar e com uma fina ironia e sarcasmo. Sem se filiar a nenhuma corrente literária, Quintana cultivou versos tradicionais.
Tem também o Canções (1946) - Poesias de sentimentos e emoções singelas. Apresenta também uma visão de mundo espiritualista ou neo-simbolista. Na obra, Quintana afina os instrumentos formais: técnica poética, recursos poéticos e revela um humor mais sutil. Também um certo desencanto e melancolia fazem parte da obra.
Sem falar de Sapato Florido (1948) - Poemas em Prosa. Obra que privilegia a informalidade e uma gama de utilitário verbais, de soluções rítmicas e rímicas. Aqui, aparecem um entrelaçado de sentidos, duplos, alusões, elipses e subentendidos.
Entretanto, o meu preferido é: O Aprendiz de Feiticeiro (1950) – que retrata a maturidade poética de Mário Quintana. Uma simples obra, mas de grande repercussão. Afloram poesias impregnadas de antíteses e paradoxos.
Mas quem quiser um mix dos melhores momentos de várias obras, não pode deixar de ter na cabeceira o livro Poesias (1962) que reúne em um único volume, obras como: A Rua dos Cataventos, Canções, Sapato Florido, Espelho Mágico e O Aprendiz de Feiticeiro. Trata-se de uma visão panorâmica sobre a obra de Mário Quintana: multifacetada, ora com características românticas, ora realistas, outras surrealistas e outras ainda com visão irônica em relação à vida sem sentido do homem contemporâneo. Tudo isso, no entanto, com uma criatividade desconcertante através de textos marcados por enganadora simplicidade.

Mário Quintana sobreviveu aos passadistas escandalizados com o verso livre; aos modernistas que vaiavam o soneto, aos concretistas alérgicos ao discurso, aos épicos que odiavam o lirismo, aos românticos chocados com a crueza.

O poeta enfrentou também os engajados que confundiam ironia com alienação, os pretensos cosmopolitas que o acusavam de provincianismo, além dos entendidos que procuraram segurar o anjo pelas asas, quando tentaram enquadrá-lo num xadrez historicista, estruturalista, marxista, reacionário ou simplesmente pedante.

Afinal, como Mário dizia: "Poeta não é profissão. É um estado de espírito, ou de coma".

Poeminho do Contra
Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!

(Prosa e Verso, 1978)
.
Diziam os amigos mais íntimos, que Mário Quintana era o poeta das coisas simples e fazia pouco caso em relação à crítica. Conforme costumava comentar, sua poesia era feita simplesmente por sentir necessidade de escrever.

Sobre o AMOR:

"Amar: Fechei os olhos para não te ver e a minha boca para não dizer...
E dos meus olhos fechados desceram lágrimas que não enxuguei, e da minha boca fechada nasceram sussurros e palavras mudas que te dediquei....O amor é quando a gente mora um no outro."


 
Danni^^