Elegia a uma pequena borboleta
Como chegavas do casulo, / — inacabada seda viva — / tuas antenas — fios soltos / da trama de que eras tecida, / e teus olhos, dois grãos da noite / de onde o teu mistério surgia, como caíste sobre o mundo / inábil, na manhã tão clara, / sem mãe, sem guia, sem conselho, / e rolavas por uma escada / como papel, penugem, poeira, / com mais sonho e silêncio que asas, minha mão tosca te agarrou / com uma dura, inocente culpa, / e é cinza de lua teu corpo, / meus dedos, sua sepultura. / Já desfeita e ainda palpitante, / expiras sem noção nenhuma.
Ó bordado do véu do dia, / transparente anêmona aérea! /não leves meu rosto contigo: / leva o pranto que te celebra, / no olho precário em que te acabas, / meu remorso ajoelhado leva! (...)
Pudeste a etéreos paraísos / ascender teu leve fantasma, / e meu coração penitente ser a rosa desabrochada / para servir-te mel e aroma, / por toda a eternidade escrava!
E as lágrimas que por ti choro / fossem o orvalho desses campos, / — os espelhos que refletissem / — vôo e silêncio — os teus encantos, / com a ternura humilde e o remorso / dos meus desacertos humanos!
[Murilo Mendes]
Como chegavas do casulo, / — inacabada seda viva — / tuas antenas — fios soltos / da trama de que eras tecida, / e teus olhos, dois grãos da noite / de onde o teu mistério surgia, como caíste sobre o mundo / inábil, na manhã tão clara, / sem mãe, sem guia, sem conselho, / e rolavas por uma escada / como papel, penugem, poeira, / com mais sonho e silêncio que asas, minha mão tosca te agarrou / com uma dura, inocente culpa, / e é cinza de lua teu corpo, / meus dedos, sua sepultura. / Já desfeita e ainda palpitante, / expiras sem noção nenhuma.
Ó bordado do véu do dia, / transparente anêmona aérea! /não leves meu rosto contigo: / leva o pranto que te celebra, / no olho precário em que te acabas, / meu remorso ajoelhado leva! (...)
Pudeste a etéreos paraísos / ascender teu leve fantasma, / e meu coração penitente ser a rosa desabrochada / para servir-te mel e aroma, / por toda a eternidade escrava!
E as lágrimas que por ti choro / fossem o orvalho desses campos, / — os espelhos que refletissem / — vôo e silêncio — os teus encantos, / com a ternura humilde e o remorso / dos meus desacertos humanos!
[Murilo Mendes]
^^
Um comentário:
As borboletas são inspirações para ssa metarmofose que é a vida humana!
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