"Seja você quem for,
receio que você esteja
trilhando as trilhas das ilusões:
receio que essas supostas realidades
venham a derreter-se de baixo dos seus pés
e suas mãos
mesmo agora os seus traços, alegrias,
conversa, casa, negócios, costumes,
maneiras, preocupações, loucuras, crimes,
dissipam-se a afastar-se de você,
e diante de mim surge
você em corpo e alma verdadeiros,
à parte das tarefas, do comércio, lojas,
trabalho, fazendas, roupas, a casa,
comprar, vender, comer, beber, sofrer, morrer.
Seja você quem for,
agora eu ponho em você a minha mão
para que você seja meu único poema,
sussurro com meus lábios perto de sua orelha:
muitas mulheres e homens tenho amado
mas a ninguém eu amo mais que você.
Que atrasado e mudo eu tenho sido!
Eu já devia ter traçado o meu caminho
diretamente a você muito antes,
eu não devia ter falado em outra coisa
que não fosse você,
eu não devia ter cantado coisa alguma
senão você...
(...)
Ah eu pudera cantar
tanta grandeza e glória a seu respeito!
Você nunca soube o que você é,
a vida toda tem passado a cochilar
a seu próprio respeito,
para mim suas pálpebras estavam
como arriadas a maior parte do tempo,
e em brincadeiras retorna
o que você andou fazendo...
Nas brincadeiras você não está,
por baixo delas e por dentro delas
percebo que você anda a esconder-se,
e eu vou atrás, como ninguém jamais
andou atrás de você:
a escrivaninha, o silêncio,
a expressão brejeira, a noite,
os hábitos de rotina - tudo isso esconde você
de você mesmo ou de outros,
mas não de mim;
o rosto barbeado, o olhar inquieto,
a aparente impureza,
se engana aos outros, não engana a mim;
a vestimenta berrante, a atitude deformada,
a embriaguez, a ganância,
a morte prematura - tudo isso
eu vou pondo de lado.
Não há dote nenhum de homem ou mulher
que não seja assinalado em você,
não há virtude ou beleza de homem ou de mulher
que não se encontre igualmente bem em você,
nem ânimo ou resistência que outros se possa achar
e não se ache igualmente em você,
nenhum prazer em esperar por outros
a que não corresponda
igual prazer em esperar por você.
(...)
Dos tornozelos caem-lhe os grilhões,
e você tem o domínio de uma infalível suficiência
- de muita ou de pouca idade, macho ou fêmea,
com pouca altura ou cultura,
ante a rejeição dos outros,
aquilo que você é proclama o seu próprio ser
atravessando nascimento, vida, morte,
sepultamento - os meios se propiciam,
nada é poupado, perdas, ignorância, tédio,
aquilo que você é vai marcando o seu caminho."
[Walt Whitman]
^^
5 comentários:
Interessante esse conceito de videopoesia...
Se a idéia era causar algum tipo de perturbação, parabéns...
É impossível ficar impassível...
hasta...
Danninha,
"... aquilo que você é vai marcando o seu caminho."
E nossas vidas, também.
A primeira vez que ouvi falar sobre Walt Whitman foi no filme Sociedade dos Poetas Mortos,
onde teve algumas de suas citações inseridas nele.
Mas há uma, em especial que me fascina:
"[...]
Me contradigo?
Tudo bem, me contradigo,
sou vasto,
contenho multidões.
[...]"
Quantas vezes somos cobrados porque nos contradizemos em mesquinharias,
em coisas sem importância alguma?
e esse cara chega e diz isso com a maior naturalidade do mundo. Mas porque é natural mesmo!!
...
Boa lembrança, querida,
boas lembranças vc me trouxe por aqui...
Bom finzinho de domingo pra vc!
É por ai Xacal, é por ai...
Se vc soubesse o trabalho que dá pra chegar a este resultado. Mas é gratificante - garanto.
Bjs!
Tetê, que bom lhe proporcionar boas lembranças...
Boa Semana pra você querida!
Bjs!
=)
Muito bem menina!
Gostou menino? Que bom!
Bjs!
=)
Postar um comentário