Dizem que finjo ou minto tudo que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto com a imaginação. Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo, o que me falha ou finda, é como que um terraço sobre outra coisa ainda. Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio do que não está ao pé, livre do meu enleio, sério do que não é. Sentir, sinta quem lê! [Fernando Pessoa, in "Cancioneiro]

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quinta-feira, 20 de julho de 2017

Sublinhado



Todas as minhas fontes vêm de ti
As nascentes
E amo-te com a constância do moribundo que respira
Já sem saber de que lado o visita a morte

Procuro a ligação entre ti e a luz muito miudinha depois dos temporais
Entre a luz e os estilhaços das ruas bombardeadas
Desconheço o colar onde unes tudo

Procuro entender como é que moldas
Os meus pés ao equilíbrio que os desloca no chão
Sei que és tu que me levantas
Que remendas o meu corpo cada dia

Em ti encontro a pulsação
Que rebenta - uma artéria como nunca
Tinha jorrado. Cratera onde durmo
Recluso, árvore à chuva
Em dificuldade extrema
De respiração

Ponho a cabeça entre os ramos, lanço os braços para fora
Como um pássaro entre um bando
De disparos

Tu moves as agulhas, tu unes de novo
As minhas asas à curva do céu

[Daniel Faria]

^^

quarta-feira, 19 de julho de 2017

FRIO


No cortejo das sombras,
incapaz de te encontrar,
tão irreal que és,
como uma manhã de inverno
ou uma rua deserta,

no cortejo das sombras
distingo
o pavor de te desconhecer

[Luís Quintais]


^^

terça-feira, 18 de julho de 2017

Minha Sede



Aqui tens a minha sede, as águas dos rios
somente satisfazem a urgência maior
e nada diz de ti esse líquido que a sede sacia:
queria beber-te nas ondas do teu ciúme
e despedaçar-me no desejo dos teus lábios
queria alcançar a nuvem e colher a rebeldia
das gotas exaltantes dos teus beijos
queria a ribeira da tua pele como a água
que rebenta das fontes
e unidos na mesma sede alcançar o êxtase
na cintilação dos mesmos horizontes
queria o incêndio escrito na mesma sede
e morrer no martírio de doçuras de amante

aqui tens a minha sede: fogo e água da tua boca
ardendo no azul duma água murmurante.



[Bernardete Costa]


^^

Introspecção


^^

Consciência E Êxtase Tornam-se Um

“Quando você está fluindo com alegria, beatitude, este é o momento de ficar consciente, mas as pessoas fazem exatamente o oposto. Quando elas estão felizes quem se importa com a consciência? E quando elas estão em angústia, elas certamente começam a pensar que é o momento de conscientizar-se e sair da angústia. Mas ninguém jamais foi capaz de sair da angústia imediatamente.
Primeiro, tem que sair do êxtase. Se você pode estar consciente primeiramente de seus momentos alegres, a depressão, as quedas não virão. A porta para sair é a partir do êxtase. Portanto esta é a maneira mais simples:
Seja feliz e esteja consciente.
Alegre-se e esteja consciente.
Ame e esteja consciente.
Não deixe a consciência de lado dizendo, ‘Isto é uma espécie de perturbação; eu estou em grande êxtase’. Consciência se torna como uma perturbação; não é. Ela talvez pareça assim no começo, mas logo você verá que levará seu êxtase a picos mais elevados. Ao final consciência e êxtase se tornam um. Então esses baixos, os momentos depressivos, as agonias, desaparecem."
[Osho, Om Shantih Shantih Shantih: The Soundless Sound, Peace Peace Peace, Capítulo #1] 


^^

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Enquanto



...O teu sono não chega e os teus dias são noites sem estrelas, eu pinto para ti o som dos pássaros em cores muito claras.


^^

10\07\2017 - Amor Além da vida?



Se procuro o teu rosto
no meio do ruído das vozes
quem procura o teu rosto?

Quem fala obscuramente
em qualquer sítio das minhas palavras
ouvindo-se a si próprio?

Às vezes suspeito que me segues,
que não são meus os passos
atrás de mim.

O que está fora de ti, falando-te?
Este é o teu caminho,
e as minhas palavras os teus passos?

Quem me olha desse lado
e deste lado de mim?
As minhas dúvidas, até elas te pertencem?



[Manuel António Pina]


^^

Amo-te.



Não desisti de habitar a arca azul

do antiquíssimo sossego do universo.

A minha ascendência é o sol e uma montanha verde

e a lisa ondulação do mar unânime.

Há novecentas mil nebulosas espirais

mas só o teu corpo é um arbusto que sangra

e tem lábios eléctricos e perfuma as paredes.

Aos confins tranquilos entre ilhas mar e montes

vou buscar o veludo e o ouro da nostalgia.

Deponho a minha cabeça frágil sobre as mãos

de uma mulher de onde a chuva jorra pelos poros.

Ó nascente clara e mais ardente do que o sangue,

sorvo o cálice do teu sexo de orquídea incandescente!

A minha vida é uma lenta pulsação

sob o grande vinho da sombra, sob o sono do sol.

Há bois lentos e profundos no meu corpo

de um Outono compacto e negro como um século.

Com simultâneas estrelas nas têmporas e nas mãos

a deusa da noite, sonâmbula, desliza.

Ao rumor da folhagem e da areia

escrevo o teu odor de sangue, a tua livre arquitectura.

Prisioneiro de longínquas raízes

ergo sobre a minha ferida uma torre vertical.

Vislumbro uma luz incompreensível

sobre os campos áridos das semanas.

Elevo o canto profundo do meu corpo

sob o arco das tuas pernas deslumbrantes.

Escrevo como se escrevesse com os meus pulmões

ou como se tocasse os teus joelhos planetários

ou adormecesse languidamente no teu sexo.



[António Ramos Rosa - Não desisti de habitar a arca azul]


^^

Vacaciones






 ^^

De Coração.

^^