Não tenho ficado muito em casa
não venho permanecendo em lugar algum, as vezes me encontro num desencontro entre eu e você ou você e você mesma, quase nunca estou no meio das estrelas ou entre o chão e o céu.
Venho caminhando pelas ruas com os braços cruzados e alguns sonhos embaixo dos sapatos, seguindo rastros que não foram deixados, olhando o céu e sentindo o corpo se inundar da chuvas repentinas.
Num quarto na parte imunda da cidade onde os corações se inundam em visões e ácidos, hoje gastei algumas horas e algumas moedas na esperança de ter paciência até a chuva transbordar o copo de café fraco e molhar as páginas com alguma cor além de nós - ou eu mesmo e um pouco de você no dia de ontem.
Obtenho alguns fáceis desvios e rotas e placas de "pare" cartas e abusos em papel - você crê? planos planos em um espaço plano que por razões metafísicas sobem e descem.
Ontem eu estava jovem hoje estou mais ainda, escuto as inúmeras risadas saídas da televisão do quarto ao lado e um copo com uísque ou conhaque se chocar contra a fina parede de madeira que separa meu amor do amor ao lado.
A mulher não para de gritar e chorar e jogar coisas contra a parede, o homem com quem ela estava algumas horas atrás me pediu um cigarro e eu pedi o isqueiro.
Não sou tão diferente do que ele é.
Será que a mulher que acabou de cortar as mãos nos cacos da garrafa de uísque ou conhaque e sentada próximo de minha porta é tão diferente da mulher que preenche o copo que nunca transborda?
[João Paulo Sousa]
^^
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