Padeci ao frio daquela noite de inverno. Como é de praxe, repeti a dose de uísque e o disco a tocar.
Observava da janela quem na rua ali passava, não consegui enxergar nada, nem uma vizinha simpática sequer, estávamos eu e a janela estreita.
O céu se mostrara nublado desde o amanhecer, e por volta da meia noite o ruido das trovoadas ameaçaram uma longa madrugada de chuva.
O vento aumentara, e apanhei o casaco que repousara sobre o espaldar da cadeira. Serviria-me de escudo.
Passou-se minutos e a chuva apareceu. Comumente a esses dias, as gotas fizeram lembrar-me você. Logo me vi chorando convulsivamente - Já que acabo sempre contendo-o - passava-se apenas de um chuvisco, porem em mim, soava mais que uma tempestade.
O uísque havia esquentado, larguei o copo no canto da escrivaninha. A chuva tardia havia deixado o perfume de terra molhada no ar. O que eu necessitava mesmo nessa hora, era de um bom e forte cigarro, tipo Charm, para tentar retirar minhas lembranças de você.
Recordei do gosto do filtro, a pouca fumaça exalada e a densidade deste. Alucinógeno.
A poça que se formara no inicio da chuva, havia aumentado. A cada gota, uma poça nova.
A noite ia se passando, e eu permanecia intacta, no mesmo lugar. É que há noites em que me apavora a ideia de adormecer, pois sempre me resta um pedaço do sonho em meio a realidade do dia, no qual acabo remoendo-me e criando ilusões referentes a você.
As gotas lavavam a janela do primeiro andar, e eu me contentava em a observar enquanto as horas iam se passando.
Queria despir-me de tudo que estava acumulado, mas as canções de Elis Regina que tocavam, não me permitiram, pois nessa existência precipitada, imprevisível de noites nada, me fiz em você.
O despertador tocara as seis e quinze, era hora de amanhecer.
[Letícia Piazza Balbinot]
^^
Um comentário:
é sempre bom teu blog...
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