Conta-me uma história sem que grites uma mentira. Sem que dês uma facada no mundo; em mim. Cá dentro – onde as palavras não chegam – quantas horas de solidão? Uma perdição desconhecida – e é como quem diz febre excessiva – que ofereça de beber às lágrimas. Ninguém pode saber que o dia começa tarde, que a dor sufocou ao canto da cama, que o amor aconteceu e já ninguém sabe se volta. É assim que se prova a imprudência? As cores dos objectos todas fora do lugar; uma ligeira corrente de ar assustada pelos malabarismos de um corpo que finalmente se entrega ao cansaço – o amor permanece? – e a lua reflectida no mar. Às vezes isto. Bastava dizeres-te aqui. Eu podia fingir olhar para o tecto, imaginar-me dentro das ausências do mundo, e esquecer o impossível. Entre o teu corpo e o meu uma vaga – ou precipício? - onde não nos deixamos cair por capricho. Adormecemos. Eu queria plantar rios, regar todas as flores, transpirar mapas e esbater fronteiras inúteis até que se rasgassem de raiva. Se no lugar do coração tivessem crescido mãos dadas os pássaros não mais se esconderiam. Venham ter comigo. Esfrego os olhos e escrevo em colapso: sou uma folha que se fechou antes mesmo de existir. Tic tac Tic tac Tic tac Tic tac. Não há tempo para vender a alma. Carrego memórias de um lado para o outro e sorrio a quem passa. Começa tu de novo, por favor: conta-me uma história de gestos vermelhos que queimam como lava e tanto salvam como maldizem. Estende-me esse olhar – e é como quem diz – Ama-me. Vem comigo. Há palavras que merecem silêncio.
Mas quem é capaz de percebê-las sem antes precisar sangrá-las na sua insensatez?
[autor desconhecido]
^^
[autor desconhecido]
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