Dizem que finjo ou minto tudo que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto com a imaginação. Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo, o que me falha ou finda, é como que um terraço sobre outra coisa ainda. Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio do que não está ao pé, livre do meu enleio, sério do que não é. Sentir, sinta quem lê! [Fernando Pessoa, in "Cancioneiro]

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quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

É tão bom começar a manhã com tudo o que queremos ser neste dia...






olhar sem medo pela
janela, ensaiar uns passos fora da pele.
Já não somos nós, nem mesmo é nosso o dia.
Tropeçamos nos olhos espantados à volta
do que vemos, precipitamo-nos para dentro e é tudo
o pouco que fizemos. Dizemos que a pele
é a nossa casa,
enumeramos as assoalhadas,
a arquitectura sólida, as vantagens de grades
nas janelas. Depois fica-se triste até ao fim do dia.
Há quem faça compras ou coma chocolate,
quem diga mal de todos, quem não acorde a espreitar
pela pele como ser outro, mas ele está a dois passos,
a respiração, a temperatura, o olhar, o corpo móvel
que se afasta levando o horizonte e só nos resta
sonhar com a manhã seguinte e todos os dias –
- todos os dias - mentimos para dentro da pele.



[Rosa Alice Branco]


^^

Um comentário:

Luna Sanchez disse...

Possibilidades me alegram!

=)

Beijo, flor.