Dizem que finjo ou minto tudo que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto com a imaginação. Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo, o que me falha ou finda, é como que um terraço sobre outra coisa ainda. Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio do que não está ao pé, livre do meu enleio, sério do que não é. Sentir, sinta quem lê! [Fernando Pessoa, in "Cancioneiro]

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terça-feira, 5 de outubro de 2010

Remissão

Tua memória, pasto de poesia,
tua poesia, pasto dos vulgares,
vão se engastando numa coisa fria
a que tu chamas: vida, e seus pesares.

Mas, pesares de quê? perguntaria,
se esse travo de angústia nos cantares,
se o que dorme na base da elegia
vai correndo e secando pelos ares,

e nada resta, mesmo, do que escreves
e te forçou ao exílio das palavras,
senão contentamento de escrever,

enquanto o tempo, em suas formas breves
ou longas, que sutil interpretavas,
se evapora no fundo de teu ser?


[Carlos Drummond de Andrade - in: Claro Enigma - 1951]

^^

3 comentários:

SrtA. L. disse...

Parabéns pelo blog, mesmo os textos sendo de

outros autores (não vi todos), pois tens o bom gosto

de escolher a imagem condizente com o texto...

Voltarei novamente...já está nos meus favoritos em

meu espaço...

Beijo doce,

;)

Valquíria Calado disse...

Redimidos somos após o perdão. Boa tarde amiga, bjos.


um Deus
muitíssimo muito mais complexo
que os deuses da imaginação do homem
e então a máquina
desde o princípio desde o fim
em espiral eterna
...vem
.....vai
pulsando os universos os céus
as galáxias milhões de anos-luz
os sóis diversos

Daniel Savio disse...

O tempo que usamos um hora, ou outra, vai acabar sendo cobrado...

Fique com Deus, menina xará Danielle.
Um abraço.