Dizem que finjo ou minto tudo que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto com a imaginação. Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo, o que me falha ou finda, é como que um terraço sobre outra coisa ainda. Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio do que não está ao pé, livre do meu enleio, sério do que não é. Sentir, sinta quem lê! [Fernando Pessoa, in "Cancioneiro]

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sexta-feira, 2 de julho de 2010


Estou a ver a casa e estou a ver-me nela:
confusamente embora as portas ao fechar-se
fazem cair-me as pálpebras, suas noites de Inverno
são só meus pés frios, é carne desta carne
ou eu sou pedra dela e ela é como casca
diminuta em meu bolso e eu como uma caixa
já vazia de chá em seu ventre de barco.

Mas é a minha casa, ou a casa que eu tive,
Onde escolher maçãs para adoçar-me a boca
E andar pelos armários com a boneca partida
Até ao armário partido com portas catedrais
Que guardavam o estrume para outras sementeiras
.

[María Victoria Atencia]


^^

2 comentários:

Geane Luciana disse...

Texto bem escolhido...
parabens
:)
estarei por aki sempre!

Daniel Savio disse...

Realmente, muita vezes crescemos tanto que as vezes os nossos vicios e virtudes se tornam as nossas casca...

Pelo menos penso assim.

Fique com Deus, menina xará Danni.
Um abraço.