É como quem se olhasse
num auto-retrato antigo e fluente
Ela sabe, como eu, da abatida constelação da casa
mas enfrenta-me, acabou de nascer
e abre imensamente os olhos
A névoa abraça-nos até ao osso
respira no ferro e no granito sob todas as mãos
Estranham-me a paixão dos retratos impassíveis
não sabem como visto
numa sombra perfeitamente de mim
a cidade que parti e não conheço
e nem sequer posso esquecer
Gestos soltos noutra varanda, ao fim da mesma tarde
entre escadas e o cais e o ar e o mar
Ela sabe, como eu, tudo desta casa
mas não pára de me encarar
tudo, edificação de sombras lentamente sobre sombras
o frágil furacão que vai ficando
Estranham-me a roupa escura e os olhos claros
o camafeu que disfarça os dois seios
sim. eles estão cá, inteiros, e apenas sou
a mulher que passa pelos pátios
Por mim, distraem-me os mínimos trabalhos
certa jardinagem, grades sobre rendas
Algo sopra dos fundos dos quartos
fecha as janelas, murmura versos que não possas viver
Mas ela pinta intensamente e se assim te debruça
atravessa-te toda a água do rio
o espelho inteiro da tua vida.
[José Manuel Teixeira da Silva]
^^
4 comentários:
Lindo texto!
E linda escolha ^^
Beijos e bom final de semana!
Que poema gostoso, amiga!
Bjkas, muuuitas e bom domingo!
Tenho trauma de reflexão e espelho..rsrs!
'Algo sopra dos fundos dos quartos, fecha as janelas, murmura versos que não possas viver'
Intenso, esse hein!
Beijo.
Apesar do texto referi do passado, só é possivel um retrato fluente do futuro, o passado sempre é imutavel...
Fique com Deus, menina xará Danni.
Um abraço.
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