Tinham passado um dia e uma noite inteiros nus, juntos, e durante a maior parte desse tempo não mais do que alguns centímetros afastados. Desde bebé que ninguém, além dele próprio, tivera tanto tempo para examinar como era feito. Como não havia no longo e pálido corpo dela nada que ele não tivesse observado, nada que ela tivesse ocultado e nada que ele não conseguisse recordar agora com uma percepção de pintor, com o conhecimento estético meticuloso e excitado de um amante, e como passara o dia inteiro não menos estimulado pela presença dela nas suas narinas do que pelas suas pernas abertas nos olhos da sua mente, a conclusão lógica era que não podia haver no corpo dele nada que ela não tivesse absorvido microscopicamente, nada naquela extensa superfície onde estava gravada a sua singularidade evolutiva auto-adoradora, nada na sua configuração única como homem, na sua pele, nos seus poros, nas suas patilhas, nos seus dentes, nas suas mãos, no seu nariz, nas suas orelhas, nos seus lábios, na sua língua, nos seus pés, nos seus testículos, nas suas veias, no seu pénis, nas suas axilas, no seu rabo, no emaranhado dos seus pêlos púbicos, no cabelo da sua cabeça, na penugem do seu corpo, nada na sua maneira de rir, dormir, respirar, nada nos seus gestos, no seu odor, no modo como estremecia convulsivamente quando se vinha que ela não tivesse registado. E recordado. E reflectido sobre.
A causa disso era o acto em si, a sua intimidade absoluta quando não só estamos dentro do corpo da outra pessoa como ela nos envolve estreitamente? Ou era a nudez física? Tiramos a nossa roupa e deitamo-nos na cama com alguém, e é na verdade aí que vai ser descoberto o que quer que escondamos, a nossa particularidade, seja ela qual for e seja como for que esteja codificada, e é aí também que está a origem da timidez e o que toda a gente receia. Quanto de mim está a ser descoberto nesse louco lugar anárquico?
A causa disso era o acto em si, a sua intimidade absoluta quando não só estamos dentro do corpo da outra pessoa como ela nos envolve estreitamente? Ou era a nudez física? Tiramos a nossa roupa e deitamo-nos na cama com alguém, e é na verdade aí que vai ser descoberto o que quer que escondamos, a nossa particularidade, seja ela qual for e seja como for que esteja codificada, e é aí também que está a origem da timidez e o que toda a gente receia. Quanto de mim está a ser descoberto nesse louco lugar anárquico?
Agora sei quem és.
[Philip Roth]
^^
4 comentários:
O nu é o verdadeiro?
Pleonasmo.
Bjs!
Amei esse texto, muito legal! Assim como todos os outros... estive sumida mas voltei! Bjo flôr
Perfeito!
=**
ℓυηα
Mas menin, é excitante tentar decorar o corpo do amado com as pontas do dedo, bem com sentir a reação dele...
Fique com Deus, menina xará Danni.
Um abraço.
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