Dizem que finjo ou minto tudo que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto com a imaginação. Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo, o que me falha ou finda, é como que um terraço sobre outra coisa ainda. Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio do que não está ao pé, livre do meu enleio, sério do que não é. Sentir, sinta quem lê! [Fernando Pessoa, in "Cancioneiro]

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quarta-feira, 2 de setembro de 2009


Sonharei, no teu seio calmo,
O sonho invisível do cego de nascença.

Dormirei, no teu cerrar de pálpebras,
Como um peixe desliza entre os ramos de árvore
Reflectidos na água.

Dormirei, nas tuas mãos pousadas no meu corpo,
O desejo de te acariciar sem perigo
- não vá tirar-te escamas, borboleta presa.

Dormirei, no teu sexo, a solidão do meu
Ao existir para que eu pense em ti.

Dormirei, na tua vida, a teimosia humana
De um sentido universal para as coisas connosco.

E se, depois, meu amor, formos estéreis,
Se a demora do tempo tiver tido um gesto abandonado,
E a morte, à nossa volta, um moleiro sem trigo,
O mundo que vier inveja-nos
E o nosso espírito há-de perdoar-nos.

[Jorge de Sena]

^^

3 comentários:

Luna Sanchez disse...

O repouso pelo repouso, o amor pelo amor, simples assim.

^^

Beijos de quarta, Danni.

ℓυηα

Lucas Lima disse...

muito bom, me lembrou umas letras intensas do Placebo, rs
Bons Dias

meus instantes e momentos disse...

belo post. Muito bom
Maurizio