Gostava mais quando a tua voz não me soava tão longe. Quando o mundo ainda nem sequer te conhecia e muito menos te queria arrebatar. Gostava mais quando não te escrevia poemas envergonhados que nunca leio a ninguém. Quando as minhas mãos fugiam; e os teus olhos não. Agora já não tenho perguntas para te fazer. Houve um tempo – anterior à comoção – mas sinto que o deixei correr atrás do desejo. Deixo sempre. Eu gostava mais das noites contigo. Quando não tinha de chorar ao pé de uma fonte por me lembrar da nossa conversa naquele dia raro de tanto calor. Numa outra fonte. Numa outra vida. Quando regressava impaciente ao cheiro familiar do teu carro e tu me abrias a porta. Gostava daquele abraço sem palavras à despedida. E do sorriso que se seguia sem demora. Gostava dos teus olhos cor de céu a olharem fundo para mim e das mãos firmes que me seguravam cada ombro nos momentos agitados. Gostava mais quando sonhava contigo – ou até mesmo quando me calava por não saber que dizer. Porque nunca sei que dizer. Gostava do meu sorriso largo na época dos segredos. Agora sobra-me sempre este sufoco: a alegria escasseia-me porque não estás. Mas continuas a pairar no silêncio do meu corpo. E é só.
[Vanessa Sousa]
^^
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