Dizem que finjo ou minto tudo que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto com a imaginação. Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo, o que me falha ou finda, é como que um terraço sobre outra coisa ainda. Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio do que não está ao pé, livre do meu enleio, sério do que não é. Sentir, sinta quem lê! [Fernando Pessoa, in "Cancioneiro]

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terça-feira, 2 de junho de 2009

Caro leitor,

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"Venho desta forma solicitar ao leitor
uma cabeça de martelo
para que por caridade
me sejam arrancados das costas
todos os pregos que o tempo aí me pregou

Pregos para pendurar retratos
talvez de coisas tristes
talvez de coisas alegres

Peço-lhe que o faça com extrema delicadeza
de modo a que um dia
me seja possível coçar as costas
sem estar preocupado
com crostas ou cicatrizes

Venho pois caro leitor
pedir-lhe depurada mestria
ao arrancar-me todos os pregos
que a vida me pregou nas costas

Pregos veja-se bem
que têm servido tão-somente
para pendurar quadros
talvez de naturezas mortas
talvez de paisagens sem título

Não leve a mal o pedido
trata-se de caridade devida
ou não fosse também o caro leitor
um desses pregos
que o destino me pregou nas costas
com irrepreensível precisão."


[Antoni Tàpies]

^^

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