como em outros tempos nossos corpos se visitavam?
Tua transparência roça-me a pele, convida
a refazermos carícias impraticáveis: ninguém nunca
um beijo recebeu de rosto consumido.
.
Mas insistes, doçura. Ouço-te a voz,
Mas insistes, doçura. Ouço-te a voz,
mesma voz, mesmo timbre,
mesmas leves sílabas,
e aquele mesmo longo arquejo
em que te esvaías de prazer,
e nosso final descanso de camurça.
.
Então, convicto,
Então, convicto,
ouço teu nome, única parte de ti que não se dissolve
e continua existindo, puro som.
Aperto... o quê? a massa de ar em que te converteste
e beijo, beijo intensamente o nada.
Amado ser destruído, por que voltas
e és tão real assim tão ilusório?
Já nem distingo mais se és sombra
ou sombra sempre foste, e nossa história
invenção de livro soletrado
sob pestanas sonolentas.
Terei um dia conhecido
teu vero corpo como hoje o sei
de enlaçar o vapor como se enlaça
uma idéia platônica no espaço?
.
O desejo perdura em ti que já não és,
O desejo perdura em ti que já não és,
querida ausente, a perseguir-me, suave?
Nunca pensei que os mortos
o mesmo ardor tivessem de outros dias
e no-lo transmitissem com chupadas
de fogo aceso e gelo matizados.
.
Tua visita ardente me consola.
Tua visita ardente me consola.
Tua visita ardente me desola.
Tua visita, apenas uma esmola."
.
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.
[Carlos Drummond de Andrade]
^^
3 comentários:
Ah, mas só migalhas não fazem ninguém feliz, né, flor?
Beijo, beijo.
ℓυηα
Tem amores que nos assombram para sempre, mas temos de ter vontade para exorciza-los...
Fique com Deus, menina xará Danni.
Um abraço.
Grande Drummond..
Mas insistes, doçura. Ouço-te a voz.
" Ah, ouvir a voz de quem gostamos.. Ah, é bom demais.."
rsrs
Beijo Danni!
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