Quando cheguei à praça do Liceu, me aproximei de um grupo de adolescentes que estava no intervalo de uma aula e outra. Observei a maneira que esses adolescentes se vestiam: estavam de uniformes, entretanto, os meninos estavam diferenciados com bonés coloridos, Pircing no nariz e orelhas. As meninas utilizavam de beijuterias coloridas, como: pulseiras, argolas e anéis para essa diferenciação. Usavam também, esmaltes coloridos nas unhas das mãos e duas delas tinham os cabelos pintados. Estilos iguais e cores e detalhes diferentes.
Outro fato curioso, era a maneira em que conversavam. Estavam deitados na calçada no colo um dos outros, sem a menor cerimônia. Usavam a mochila como travesseiro. Conversam abraçados entre si, alisando os cabelos. Num determinado momento, aproximou-se do grupo um casal de adolescentes. Estes por sua vez, perguntou-lhes se iriam ao show de uma banda local. O grupo todo respondeu a tal pergunta, utilizando diversas gírias. Depois da resposta, o casal que estava em pé, sentou-se ao chão e ficou interagindo a este grupo.
Quando me aproximei ao grupo, todos eles me olharam dos pés a cabeça, e me receberam com certo receio seguido de hostilidade. Perguntei-lhes o nome e expliquei sobre a pesquisa. No começo ficaram resistentes, mas como comecei a conversar utilizando o vocabulário deles, relaxaram e ficaram extremamente simpáticos. Parecia que já me conheciam a longas datas. Perguntei o que eles fazem nas horas vagas. Todos eles responderam que quando não estão estudando suas lições, estão em bate papo virtual ou em sites de relacionamentos. Gostam de ficar em casa vendo tv, jogar vídeo-game e ouvir músicas. Aí eu perguntei se eles não preferem conversar pessoalmente. Eles falaram que utilizam essa ferramenta para marcar encontros no shopping e ir ao cinema nos finais de semana. Perguntei se nesses encontros existe um grupo fixo ou eles chamam mais amigos para interagir. Eles responderam que além deles, chamam vizinhos, irmão, primos, etc.
Notei que existia neste grupo uma adolescente, em especial, que na maioria das vezes, respondia por todos. Era uma espécie de líder. E quando ela falava, os outros repetiam suas respostas ou ficavam calados, consentindo. No final, perguntei sobre namoro. Neste momento, percebi que havia um interesse implícito entre dois jovens, que, naturalmente, o grupo todo sabia. Mas estes, por sua vez, ficaram sem graça com as indiretas do grupo e começaram a entregar um ao outro, de quem era apaixonado por quem. Não houve brigas, muito pelo contrário, levaram a situação na brincadeira e gargalhadas.
Agradeci a atenção e me retirei.
Análise das entrevistas à luz de três teóricos:
- Stanley Hall: Hall elaborou sua teoria optando pela hereditariedade versus ambiente. Ele pensava que o desenvolvimento durante a meninice era um tipo de desenrolar passivo, ordenado pela natureza. Ao entrar na puberdade ele supunha que o desenvolvimento se tornasse mais fluído. Ainda sobre as influências inatas, no que diz respeito a sexualidade, o adolescente é mais sensível as influências externas, e capaz de ser moldado por elas. Segundo Hall, Os adolescentes além de adquirir capacidade reprodutora, eles se tornam abruptamente conscientes de todas as instituições que no futuro, moldarão sua vida adulta (religião, forças políticas econômicas e morais). Seus poderes intelectuais aumentam, tornando-os mais aptos a escolarização. É um período particularmente vital na promoção do esquema evolutivo da natureza para a humanidade. Os impulsos sexuais adormecidos durante a infância em função de um poderoso estímulo dado pela natureza, de repente são despertados, ocorrendo uma invasão de sentimentos que são desconhecidos por eles. É um período de romances repentinos e amizades apaixonantes. [“Estavam deitados na calçada no colo um dos outros, sem a menor cerimônia. Usavam a mochila como travesseiro. Conversam abraçados entre si, alisando os cabelos.”] Verdadeira capacidade de raciocinar e de tirar proveitos. [“...e começaram a entregar um ao outro, de quem era a fim de quem.”]
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- Anna Freud: Para Anna Freud a “lendária’’ turbulência da adolescência deve ser atribuída “ao confronto entre o ID relativamente, forte e, um EGO (eu) relativamente fraco”. As resoluções dos conflitos irão depender do equilíbrio que o Ego estabelecerá entre as proibições morais do Superego e as demandas do Id. O Id com força crescente, pode vencer o ego e daí perderá qualquer traço do caráter prévio do indivíduo, ou o ego pode sair vitorioso e o caráter do indivíduo se declarará para sempre. A recapitulação seria dos impulsos sexuais infantis, ou seja, a construção da identidade do adolescente vem após a repetição dos eventos da infância. O tumulto se da através do reflexo das fases do desenvolvimento da própria historia do individuo. E uma fase onde se capaz de intensos auto-sacrifícios e devoção. São capazes de travar relação amorosas mais apaixonantes e termina-las tão abruptamente quanto começaram. Introduzem entusiasticamente na vida Social e Comunitária , e repentinamente optam pelo isolamento e solidão. [...“quando não estão estudando suas lições, estão em bate papo virtual ou em sites de relacionamentos. Gostam de ficar em casa vendo tv, jogar vídeo-game e ouvir músicas.”] Oscilam entre uma submissão cega a um líder eleito, porem, rebelam-se desafiantemente contra a qualquer autoridade. [“Notei, que existia neste grupo, uma adolescente, em especial, que na maioria das vezes, respondia por todos. Era uma espécie de líder. E quando ela falava, os outros repetiam suas respostas ou ficavam calados, consentindo.”] São egocêntricos e materialistas, ao mesmo tempo são cheios de ideias e ideais elevados. Para com alguns são extremamente grosseiros e sem consideração, para com outros são extremamente sensíveis. [“Quando me aproximei ao grupo, todos eles me olharam dos pés a cabeça, e me receberam com certo receio seguido de hostilidade.”] Oscilam do otimismo esfuziante ao pessimismo absurdo.
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- Harry Stack Sullivan: Para Sullivan, os seres humanos são os únicos animais que se comunicam de forma extremamente complexa (símbolos verbais, não verbais, da linguagem falada...). Atribui as crises da adolescência ás necessidades que eles tem em superar a identidade infantil, às características da idade infantil( em todos os aspectos) e a necessidade de consolidar uma idade adulta ajustada, normal. Não atribui aos conflitos sexuais infantis – oriundos do id. Sullivan dizia que, A pré-adolescência, idades de 8 a 12, marca o movimento da criança da cooperação e da competição dos grupos de pares embasada em regras para intimidade genuína com um camarada. Sullivan viu a fase como um estágio particularmente importante no qual o dar e receber com um amigo especial pode reparar e desfazer distorções causadas por ansiedade excessiva em estágios anteriores. A criança dirige-se verdadeiramente para fora da família pela primeira vez e se engaja em um dar e receber livre com uma outra pessoa não afetada pela dinâmica da mesma família. [“Perguntei se nesses encontros existe um grupo fixo ou eles chamam mais amigos para interagir. Eles responderam que além deles, chamam vizinhos, irmão, primos, etc.”] A grande mudança em direção ao pensamento sintático ocorre embora, algumas distorções possam persistir até a adolescência. Uma capacidade para apego, amor e colaboração emerge ou falha em desenvolver-se em face da ansiedade excessiva. Embora exploração sexual possa ser uma parte do relacionamento de camaradagem, Sullivan não viu a sexualidade como um elemento central na pré-adolescência. [“Estavam deitados na calçada no colo um dos outros, sem a menor cerimônia. Usavam a mochila como travesseiro. Conversam abraçados entre si, alisando os cabelos.”] Na adolescência anterior, considerada adolescência propriamente dita, é um período de tempestade e tormenta, devido a presença de desafios novos e perturbadores. São desafios que surgem em função de sentimentos que até então nunca haviam sido experimentado. Como resultado das mudanças fisiológicas que ocorrem em seu corpo, o adolescente desenvolve uma nova necessidade a de segurança (manter-se livre da ansiedade) onde estão presentes as atividades de caráter masturbatório. Muitos dos conflitos da adolescência decorrem da necessidade oposta de gratificação sexual, de segurança e de intimidade. Para Sullivan, muito do que se supõe ocorre durante a adolescência (os altos e baixos, as grandes paixões e a inconstância) como um resultado de dificuldade inter-pessoais. [“...percebi que havia um interesse implícito entre dois jovens, que, naturalmente, o grupo todo sabia. Mas estes, por sua vez, ficaram sem graça com as indiretas do grupo e começaram a entregar um ao outro, de quem era apaixonado por quem.”] Portanto, a adolescência é um estágio repleto de “choques de necessidades” e esses é que tornam a adolescência problemática. Para Sullivan, a adolescência posterior se estende a padronização da atividade genial para o estabelecimento de uma série de relacionamentos interpessoais completamente humanos ou maduros. Engloba os anos que antecedem e seguem à idade dos 20 anos. Sullivan concentra-se quase que exclusivamente sobre as mudanças intelectuais e os aspectos educacionais da adolescência posterior.
^^
5 comentários:
Danni, então quer dizer que essa fase de "aborrecência" é normal.
Urfa!
Ainda bem que os meus já estão saindo dessa estapa.
Ô fase difícil!
Beijos linda!
muito bom seu blog... vi que vc segue um meu, mas que está adormecido, conheça o aliciamentosealucinacoes.blogspot.com
um abraço!
(sheyladecastilho°
Obrigada Sheila. Seja bem vinda!
Pode deixar que já o adicionei aos meus favoritos.
Bjs!
=)
Parabéns pelo relato e pela análise!!!
Um abraço!!!!
Obrigada você!
Volte Sempre!
=)
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