"Ontem
às onze
fumaste
um cigarro
encontrei-te
sentado
ficamos para perder
todos os teus elétricos
os meus
estavam perdidos
por natureza própria.
Andamos
dez quilômetros
a pé
ninguém nos viu passar
exceto
claro
os porteiros
é da natureza das coisas
ser-se visto
pelos porteiros.
Olha
como só tu sabes olhar
a rua os costumes.
O público
o vinco das tuas calças
está cheio de frio
e há quatro mil pessoas interessadas
nisso.
Não faz mal abracem-me
os teus olhos
de extremo a extremo azuis
vai ser assim durante muito tempo
decorrerão muitos séculos antes de nós
mas não te importes
não te importes
muito
nós só temos a ver
com o presente
perfeito
corsários de olhos de gato intransponível
maravilhados maravilhosos únicos
nem pretérito nem futuro tem
o estranho verbo nosso."
[Mário Cesariny de Vasconcelos]
^^
Um comentário:
Danni,
Fico sempre assim, sem palavras.
Literalmete, "no limite das palavras".
Bjs!
Munique
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