Dizem que finjo ou minto tudo que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto com a imaginação. Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo, o que me falha ou finda, é como que um terraço sobre outra coisa ainda. Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio do que não está ao pé, livre do meu enleio, sério do que não é. Sentir, sinta quem lê! [Fernando Pessoa, in "Cancioneiro]

Redes Sociais

https://www.facebook.com/danielle.manhaes --- Instagram: @danielle.manhaes @danielle.manhaes_psi

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

O Sábio Chico


A vida é sempre aquela dança aonde não se escolhe o par. E depois de tantas voltas já não sabemos se somos nós que rodamos ou o salão, e tudo anda às voltas e tudo é indefinido. Não escolhemos o par, nem a dança. Apenas seguimos, ao sabor do que aparece. Eu trago o peito tão marcado das lembranças do passado. Não me deixam mais, as cicatrizes ficaram. As lições, não sei se as aprendi. E o passado não é assim tão longe. Sei que além das cortinas são palcos azuis. Mas é tão longe e espreitar através das cortinas não passa disso, de espreitar. Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll. (E que haja muito samba nesta vida). Eu cultivo rosas e rimas. Sempre gostei mais de palavras do que de flores, embora ambas sirvam para os mesmos fins: enganar uns, pedir perdão a outros, demonstrar sentimentos aos derradeiros. E pela minha lei a gente era obrigada a ser feliz. Mas nem a mim própria sei impor a minha lei. Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz. É mais testemunha do bem e do mal que eles me fizeram (e cada beijo guardado no canto de pele em que ele tocou). Uma festa acabou, nosso barco partiu. Outras festas me aguardam, outros barcos chegarão. Bateu uma saudade de ti. Porque bate sempre que oiço palavras de quem sabe o que foi gostar.O seu luar de prata virou chuva fria. E aprendi a não mais confiar em luar nenhum. Porém é bem melhor sofrer em dó menor do que você sofrer calado. E então canto, quando ninguém me pode ouvir. E mesmo quando me ouvem, canto baixinho. Pelas noites sem luar eu errei. Pelos dias sem luz também. O meu tempo inteiro só zombo do amor. E no fundo, sou a mais romântica deles todos. O tempo rodou num instante nas voltas do meu coração. E já não sei ter tempo nem o que fazer dele. Amou daquela vez como se fosse a última. Que é melhor amar assim do que como se fosse a primeira. Hoje estou crescido, já não choro não. Descobri novas formas de chorar. Que a dor é tão velha que pode morrer. E é como se já fosse uma parte de nós. Tomei o calmante, o excitante. E esperei conseguir esquecer. Me embriagar até que alguém me esqueça. Mas nunca me esquecem. Pior, eu nunca me esqueço. Como fiz estradas de me perder... E sempre me perdi, e sempre me reencontrei. Meia-noite ela jura eterno amor. Eu aprendi a só o jurar para dentro. Viu morrer alegrias, rasgar fantasias. E viu nascer tristezas e brotar certezas. E saudades fúteis, saudades frágeis. Que tempo nenhum cura, apenas acalma. Os meus vinte anos, o meu coração. São meus, mas partilho-os com o mundo, até os vinte anos que ainda não fiz. Solta as unhas do meu coração. Antes que ele fique pequenino demais. Tem mais samba o perdão que a despedida. Mas a despedida tem mais bossa-nova que o perdão. O que não tem vergonha nem nunca terá. E será sempre cru e duro, mas risonho se natural. E que me aperta o peito e me faz confessar. Nem que seja para dentro, confessamos sempre. Quantos homens me amaram bem mais e melhor que você. Mas amamos sempre os piores amantes, os que nos amam demais na cama e demenos na rua, na sala, no peito. Até segundo aviso você prometeu me amar. Mas tantas promessas são quebradas... Vou cobrar com juros, juro. E juro não mais jurar. Antes que o amor acabe, traga-me um violão. Para sabê-lo cantar quando chegar o seu fim. É preciso não chorar, maldizer não vale a pena. E eu choro e maldigo e desaprendo a ser feliz.
Amaram o amor urgente. Porque só é amor quando a urgência se sente. A dor que a gente finge e sente. E finge que não sente e sente mais fingindo. Me encontrou tão desarmada que arranhou meu coração. E arranham sempre. Mas afaguei meu peito e aliviou. Porque alivia sempre, também. Já confudimos tanto as nossas pernas. O meu andar já nem é mais o meu. E cada qual no seu canto, em cada canto uma dor. E cada um com a sua, tão grande e tão pequena. Você vem feito criança p'ra chorar o meu perdão. E eventualmente um dia eu aprenderei a dizer 'não'. Mereça a moça que você tem. E aquela(s) que virá a ter. Seja lá como for, venha sorrindo. E ao sorrir tudo parecerá mais bonito. Diz que me ama e eu não sonho mais. Mas diz, por favor.

A vida ainda vale o sorriso que eu tenho p'ra te dar. "


^^

Um comentário:

Daniel Savio disse...

E no final o que vale são as coisas alegres que levamos durante o nosso periodo na Terra =P

Fique com Deus, menina xará Danni.
Um abraço.