Dizem que finjo ou minto tudo que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto com a imaginação. Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo, o que me falha ou finda, é como que um terraço sobre outra coisa ainda. Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio do que não está ao pé, livre do meu enleio, sério do que não é. Sentir, sinta quem lê! [Fernando Pessoa, in "Cancioneiro]

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domingo, 3 de maio de 2015


Das trinta e oito mulheres que passaram pela roleta do ônibus, me apeguei a quase todas aquele lugar estratégico bem ao lado da roleta, sentado e olhando para todas e sendo olhado por algumas que mantinham o olhar por dois ou três segundos, pensando que tipo de pervertido eu era, bom, sou como qualquer um, não como qualquer pervertido só que dessa vez não era nada discreto.
Eu te vi de cima a baixo, pele clara, aliás, como você consegue se manter tão clara com esse sol todos os dias?
Você já pensou que se tivesse falado comigo eu provavelmente iria gaguejar e não saber como tirar meus olhos dos seus lábios pintados de vermelho?
Enquanto você se mantinha ali de pé com os olhos em minhas tatuagens pensando que tipo de guri eu poderia ser na sua vida ou pensando nas compras de natal que a mãe está fazendo no caos que está o Centro da cidade. Ainda prefiro pensar que imaginava que tipo de guri eu era, ali, olhando as vezes para seu rosto fingindo olhar a rua do outro lado mas com você ali a rua continuava sendo o mesmo lugar de sempre.
Olhava para seu rosto - e também para seu corpo- e para os seus malditos lábios cor de vinho, que tipo de pessoa acha que é para sair pela rua fazendo qualquer um imaginar coisas que não levam a lugar algum?
E mesmo sem se tocar que algum dia ficou na cabeça de alguém você imagina que não me lembro nem dos teus olhos cor de...
Depois de estar em minha casa entre as paredes e os olhos que tento criar na minha solidão, eu penso que poderia te ver no feriado que vem.
Mas isso nunca vai acontecer.

[João Paulo Sousa]


^^

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