Dizem que finjo ou minto tudo que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto com a imaginação. Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo, o que me falha ou finda, é como que um terraço sobre outra coisa ainda. Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio do que não está ao pé, livre do meu enleio, sério do que não é. Sentir, sinta quem lê! [Fernando Pessoa, in "Cancioneiro]

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terça-feira, 6 de julho de 2010


A manhã com as suas proibições
na tua fala.
A claridade estava a crescer
numa cama que já se tinha atravessado no escuro
como uma nave enfileirando para a guerra.

Eu não tinha ficado para conhecer a vista
das tuas janelas: imaginava um pátio riscado por ervas
mas não cheguei a levantar as persianas.
Talvez fosse um sítio ao qual não se pudesse regressar
porque quando falávamos os nossos olhos não coincidiam
com nenhuma palavra.

Teria gostado de te levar comigo outra vez
mas era difícil recuperar as razões
para o desejo.
E no caso de nos ter acontecido uma mudança
onde é que havíamos de procurar
os seus indícios
? Estavas a dar de comer aos peixes
e eu só falava em livros.


[Rui Pires Cabral]


^^

Um comentário:

Daniel Savio disse...

As vezes as palavras são desnecessárias, mas nunca o desejo por trás dos amantes...

Fique com Deus, menina xará Danni.
Um abraço.