Dizem que finjo ou minto tudo que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto com a imaginação. Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo, o que me falha ou finda, é como que um terraço sobre outra coisa ainda. Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio do que não está ao pé, livre do meu enleio, sério do que não é. Sentir, sinta quem lê! [Fernando Pessoa, in "Cancioneiro]

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domingo, 30 de maio de 2010

E eu


Há mil portas atrás
quando eu era uma miúda solitária
numa casa grande com quatro
garagens e era verão
desde sempre,
da noite deitada na relva,
com os trevos a enrugarem-se por cima de mim
as estrelas sábias deitadas sobre mim,
a janela da minha mãe um funil
de calor amarelo a escorrer
a janela do meu pai, meia fechada,
um olho onde adormecidos passavam,
e as tábuas da casa
eram macias e brancas como a cera
e provavelmente um milhão de folhas
velejavam nos seus caules estranhos
enquanto os grilos faziam tiquetaque em uníssono
e eu, no meu corpo recém estreado,
que ainda não era o de uma mulher,
dizia às estrelas as minhas perguntas
e pensava que Deus poderia mesmo ver
o calor e a luz pintada,
cotovelos, joelhos, sonhos, boa noite.

[Anne Sexton]


^^

3 comentários:

Daniel Savio disse...

Penso que realmente, nunca estreia realmente, pois sempre nos preparamos tanto com cada desafio que a vida apresenta, só temos de expandir a nossa consciência e ver aonde já tivemos aquela experiência e não a diferença entre elas...

Desculpa se viajei um pouco na maionese.

Fique com Deus, menina xará Danni.
Um abraço.

Maria disse...

NO SEU CORPO ESTREADO...
VOCÊ CRESCIA E SONHAVA.

TENHA UMA BOA SEMANA

:)) BEIJOSSSSSSSSSSSSSSSSS

Luna Sanchez disse...

Adorei a imagem...adorei! ^^

Beijos, Danni!

ℓυηα