Dizem que finjo ou minto tudo que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto com a imaginação. Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo, o que me falha ou finda, é como que um terraço sobre outra coisa ainda. Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio do que não está ao pé, livre do meu enleio, sério do que não é. Sentir, sinta quem lê! [Fernando Pessoa, in "Cancioneiro]

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domingo, 18 de outubro de 2009


Não digas ao que vens. Deixa-me
adivinhar pelo pó nos teus cabelos
que vento te mandou. É longe a
tua casa? Dou-te a minha: leio nos

teus olhos o cansaço do dia que te
venceu; e, no teu rosto, as sombras
contam-me o resto da viagem. Anda,

vem repousar os martírios da estrada
nas curvas do meu corpo - é um
destino sem dor e sem memória. Tens

sede? Sobra da tarde apenas uma
fatia de laranja - morde-a na minha
boca sem pedires. Não, não me digas
quem és nem ao que vens. Decido eu.

[Maria do Rosário Pedreira]

^^

Um comentário:

Luna Sanchez disse...

Que lindo! E a imagem, como sempre, um show à parte.

Lembrei de uma da Cáh, uma poetisa que eu admiro muito. Olha só :

"Tenho vindo de longe
ao teu encontro
atravessei continentes
e terras que não tem nomes
comi um pouco de fome
tornei-me estrangeira
de mim mesma

Espera
estou quase no fim do caminho
me reserve para a chegada
um pouco dessa tua doçura
para que quando eu te beijar
o gosto amargo da distância
se dissolva como se nunca
tivesse existido"

("Aviso de chegada")

Beijo, amiga.

ℓυηα