Dizem que finjo ou minto tudo que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto com a imaginação. Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo, o que me falha ou finda, é como que um terraço sobre outra coisa ainda. Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio do que não está ao pé, livre do meu enleio, sério do que não é. Sentir, sinta quem lê! [Fernando Pessoa, in "Cancioneiro]

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quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Era da dor e do resto
que se fazia a música:
o que ficava das intactas madrugadas,
do sol baço, dos inclinados
meios do dia
de fome e de solfejo.
Mesmo se rias, se os teus olhos míopes
em nós dançavam,
era como se um lance mais profundo,
uma agonia, difusa, abstracta,
lhes tocasse as pálpebras
febris.
E, nota a nota, nuvens
soltas, farrapos de céu numa aberta
de outono,
as cordas eram dedos
suspensos na nossa
repartida solidão.

Mas, dança, enfim, dancemos
na poeira estelar das tuas pernas já desfeitas,
antes que soe a riso claro
a eterna dor de que criaste
a vida que anima
o coração.

[António Mega Ferreira]

^^

2 comentários:

Unknown disse...

Enfim chegou a primavera...
E daí?
Flores pelos campos, a natureza amando.
É primavera. Bate outra vez o coração.

Bjos com carinho.

Luna Sanchez disse...

Danni,

Fiquei encantada com a imagem, e o texto é lindo, lindo, mas o início já me ganhou : "Era da dor e do resto que se fazia música..."

Maravilhoso!

ℓυηα